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8 de novembro de 2013

Não destruam os nossos sonhos!

Excelentíssimo Ministro da Defesa Nacional, Sr. Dr. José Pedro Aguiar Branco,

Vimos por este meio demonstrar o nosso desagrado e total e incompleta insatisfação perante a situação em que o nosso colégio se encontra, pois o Sr. Ministro ora diz que investe milhões de euros nos estabelecimentos militares de ensino, de modo a que sejamos as melhores escolas em termos de ensino do país, como já está a favor da fusão do Colégio Militar com o Instituto de Odivelas, pois precisa de “poupar”. 

Acha justo o que está a fazer com todas nós?! Muitas das alunas entram aqui obrigadas e acabam por sair pela porta deste colégio, com lágrimas na cara, pois o IO muda mesmo a vida de uma rapariga, para melhor, tanto pelos melhores como pelos piores motivos! Pelos melhores, pois o IO, principalmente para as alunas internas é a sua segunda casa, para muitas a ÚNICA que têm! Pelos piores, pois apesar da exigência saímos daqui bem formadas!

O IO é uma casa que tem como principal objetivo fazer com que todas as raparigas saiam de cá umas autênticas mulheres, guerreiras, e com a percepção de que devemos aproveitar cada oportunidade que nos é dada, pois há quem não tenha sequer direito a uma educação/formação académica. Cada cêntimo investido em nós, pelos nossos encarregados de educação é-lhes retribuído da melhor forma possível: com boas notas nas disciplinas respetivas, com boa nota em arranjo e procedimento, com uma maneira de pensar madura e positiva, com uma maneira de lidar e resolver problemas completamente diferente!

O IO ensina-nos a ser autónomas, pois aqui aprendemos a fazer a nossa cama, deixando sempre as colchas esticadinhas o máximo possível, limpamos o pó e varremos o chão do nosso quarto diariamente, quando saímos para quem não tem família próxima, aprendemos a andar de transportes sozinhas, até a nossa maneira de falar fica diferente com o convívio com as monitoras e funcionários mais velhos do colégio. 

O IO abre-nos as suas portas, acolhendo-nos de braços abertos e transmitindo-nos do melhor modo possível o que é ser uma MENINA DE ODIVELAS ! 

Tem a certeza que quer destruir um instituto com 113 anos de excelência, quase 114? Nesta casa formaram-se desde grandes médicas a vedetas nacionais, mulheres das ciências, das matemáticas, até mulheres dos grandes palcos! 

Tem a certeza que quer destruir os sonhos de jovens mulheres como nós? Apesar de haver muitas alunas a quererem seguir cursos civis muitas estão cá pelas portas que o colégio abre para quem quer seguir carreira militar, pelas bolsas de estudo oferecidas a quem provém dos PALOP! 

Está provado que o ensino diferenciado é melhor, e mais eficiente, e nós somos a prova disso! 

Faça agora um estudo dos três estabelecimentos militares de ensino, e diga-nos se está a valer a pena todos estes cortes e toda esta fusão obrigatória. Acaba por ser gasto ainda mais dinheiro em alimentação, transporte para o colégio militar ida e volta para quem está em equitação e instrução militar, entre muitos outros contratempos após o inicio desta malévola fusão.

Não vale a pena o sucedido! Está a arruinar o colégio para no futuro ter um mau uso! Prefere que o colégio seja bem empregue pelas alunas que tanto o estimam e no futuro através das sementes nesta casa plantadas seja bem empregue todo o dinheiro investido ou que seja apenas usado para uso turístico?! 

Faça o Sr. Ministro o que fizer, nós enquanto alunas deste instituto não deixaremos que fechem a nossa casa e muito menos que façam a fusão definitiva do IO com o CM.

Não sabe o quanto é bom, enquanto alunas do secundário, ver as alunas mais novas a brincarem e a correrem pelos claustros, a sorrirem com um pequeno abraço de conforto de alguma colega, ver os grandes convívios nos lanches, tanto no da manhã como da tarde, vê-las tirar boas notas e ouvi-las dizer que nós somos o exemplo delas, vê-las marchar com orgulho de peito cheio e cabeça erguida, vê-las felizes com pequenos gestos! Ao fim e ao cabo, uma vez cá dentro, raras são as que dizem que querem sair, e raras são as que não choram quando saem. 

Estamos a chegar ao final do secundário, e cada vez que nos apercebemos disso, os nossos olhos enchem-se de lágrimas e sentimos um aperto no peito por saber que o final tão indesejado está a chegar. 

Nenhuma escola representa tão bem Portugal como a nossa, nenhuma outra escola representa Portugal no seu esplendor máximo em cerimónias como o Dia do Exército e o Dia de Portugal ! Nós marchamos com orgulho, com a farda sempre limpa e passada a ferro, sapatos bem engraxados, raras são as que põem o joelho em terra ! E as que põem, excelentíssimo Ministro, só o fazem após 3 a 4 horas de pé, em “à vontade”. 

Quando entrámos para este colégio, sentimo-nos logo em casa, o Coronel José Serra, diretor deste Instituto na altura, intitulava-se nosso pai e nós éramos as suas filhas, e sabe que mais? Ele não precisava de se intitular, ele era mesmo o nosso pai! E o nosso atual diretor, 1º Coronel de Engenharia, Sr. António Niza Pato, também é um autêntico pai para nós! 

Mas não são só militares como o atual diretor e ex-diretores que tanto fazem por esta casa! Desde as cozinheiras às empregadas de limpeza que lutam pelo asseio do nosso colégio, às monitoras de corredores, camaratas e balneários que zelam pela nossa proteção e segurança, certificando-se de que temos tudo em ordem e que nada nos falta, aos porteiros que controlam as nossas entradas e saídas, passando pelos professores que nos proporcionam o melhor ensino possível, levando-nos ao exame com médias altas e acabando o secundário com médias altas. Desde os militares que trabalham na quinta do colégio às enfermeiras do posto médico, todos fazem tudo para que nós sejamos felizes nesta casa! Todos nos dão motivos para ficarmos! 

O nosso colégio, comparado com o Colégio Militar e o Instituto dos Pupilos do Exército, não é tão militar quanto eles, mas quando estamos em Ordem Unida e Instrução Militar, damos o máximo de nós para que o tempo nessas duas atividades investidas, que de certo modo é um tempo que retiramos ao estudo, seja produtivo ! 

Sentimos um aperto no peito por permanecermos na incógnita se os valores que nos foram transmitidos pelas alunas mais velhas terão continuidade tanto dentro como fora desta casa, ou se apenas fora. Diga-nos, para quê destruir algo pelo qual todas nós lutamos? 

Enquanto alunas de Odivelas, prezamos a verdade, a lealdade e o companheirismo, pois afinal de contas SER AMIGA É SER IRMA. E todas juntas iremos CADA VEZ MAIS ALTO!

O nosso ex-diretor marcou-nos com a frase “De uma Menina de Odivelas aceita-se tudo menos falta de classe”. E por isso mesmo é que não nos rebaixamos e lutamos por esta grande casa sem nunca perdermos a classe. E como não são só palavras que comovem, convidamo-lo a vir à nossa abertura solene que realizar-se-á dia 8 de Novembro pelas 15h, para verificar com os seus próprios olhos a excelência de que é feito o nosso Instituto e o nº de alunas que entraram neste novo ano letivo.

Não se esqueça que por redução de custos, é o futuro destas pequenas grandes mulheres que está em risco, que é a felicidade e educação delas que está em causa! Todas nós somos felizes aqui! 

Atenciosamente, a aluna do Instituto de Odivelas,

Vanessa Santos, 383/2012

Mulheres com valores e determinação

Ex. Sr. Ministro da Defesa Nacional José Pedro Aguiar Branco,

Venho por este meio expressar a minha sincera opinião sobre o encerramento do Instituto de Odivelas. Penso que o Sr. Ministro não saiba tal situação que lhe passo a comunicar de seguida. Este é o meu segundo ano de casa, mas já me sinto parte da casa, “parte da mobília” como se costuma dizer em bom Português. Eu vi-me achada num novo mundo quando cheguei ao Instituto, acabada de sair da escola que frequentei durante oito anos, que em nada se assemelha a esta casa centenária de renome e excelência. Logo no primeiro dia, o dia de integração das novas alunas, senti-me automaticamente integrada ao ser tão bem acolhida pelo sorriso caloroso das pessoas que trabalham todos os dias por cada aluna singular e em conjunto. 
As alunas graduadas, passo a esclarecer, as alunas do décimo-segundo “de estrelas no peito”, dispensaram os seus dias de férias para preparem atividades para nós, que chegávamos de novo para começar uma nova viagem. Todos naquela casa trabalham para os outros e não para si. Fui acolhida por um diretor que se autointitulava de “nosso pai”, senti-me filha de um estranho que me abraçou com a sua preocupação pelas suas “filhas” sem qualquer ligação genética. De facto, era um diretor preocupado e dedicado. Um Coronel de Infantaria em que a sua maior arma era o amor, o amor que sentia por cada aluna. Esse amor fazia-nos sentir bem, amadas, respeitadas, queridas, acolhidas e integradas acima de tudo. Rapidamente me apercebi que ali se ensinam valores que há muito foram esquecidos, nesta sociedade corrupta, nesta sociedade dada ao esquecimento, nesta sociedade sem valor mas ao invés com preço. 
Nenhuma escola hoje em dia transmite valores como: “Ser amiga é ser irmã”, “Cada vez mais alto!” referindo-se à elevação pessoal no nosso percurso académico e profissional e na elevação do Instituto, “Nenhum camarada é deixado para trás”. A base desta casa é a lealdade, a amizade, o respeito, a disciplina e a verdade. Aqui respeita-se uma hierarquia, aqui as boas alunas são recompensadas, aqui formam-se Mulheres, Mulheres com valores e determinação, Mulheres como já não há, Mulheres capazes de mudar o mundo com as suas convicções, como outrora outras fizeram. Nenhuma outra escola em Portugal tem um código de honra como esta casa. Passo a citar:

1. Honrar a Pátria e tudo o que a representa.

2. Honrar e prestigiar o Instituto de Odivelas.

3. Ter orgulho na farda.

4. Amar a verdade, lealdade, amizade e partilha, dando prioridade à dignidade individual.

5. Total empenho na instrução e formação física, intelectual e moral, próprias e coletivas.

6. Não fraquejar perante as adversidades e ser humilde nas vitórias.

7. Regular-se, em todas as circunstâncias, pela prática do bem do bom senso.

8. Ser intransigente à desonestidade e a quaisquer ações contrárias à honra e à disciplina.

9. Respeitar todas as entidades para o bom funcionamento da vida colegial.

10. “Ser amiga é ser irmã”.

Faço especial referência aos pontos número 1,3,4,6,7,8 e 10. O Instituto de Odivelas, tem amor ao país onde vive, e representa-o em qualquer circunstância da melhor forma possível. Uma aluna do Instituto de Odivelas tem amor e orgulho à farda que enverga, tem firmeza no andar, um brilho no olhar e postura enquanto anda fardada, porque está a representar a sua casa, o seu lar, porque afinal lar, é onde o coração pertence. 
Uma aluna de Odivelas preza a verdade, a lealdade, a amizade e a partilha, envolvendo-se inclusive em obras de solidariedade proporcionadas pela escola. Uma aluna de Odivelas nunca fraqueja perante qualquer obstáculo, nunca “põe joelho em terra”, aprende a ultrapassá-lo e quando chega à vitória, assume-a humildemente. Uma aluna de Odivelas regula-se sempre pelo bem e nunca pelo mal, usando sempre o bom senso. Uma aluna de Odivelas é honesta e disciplinada, mantendo sempre a sua boa conduta. 
E finalmente o grande lema desta casa “ser amiga é ser irmã” porque mais que amigas somos todas irmãs, ajudamo-nos sempre que precisamos, mesmo que seja a primeira vez que vimos uma rapariga, mas ao fazer parte desta casa, é parte dela e nada a poderá separar dela, nunca. Nem que uma catástrofe natural demolisse esta casa. Porque uma Menina de Odivelas, será sempre uma Menina de Odivelas. Nunca irei esquecer muitos momentos que irei passar aqui, e gostaria que os meus filhos no futuro disfrutassem desta experiência de que agora eu estou a disfrutar. E nunca me esquecerei daquilo que uma vez um grande Homem me disse: “A uma Menina de Odivelas perdoo tudo, menos a falta de classe”.

Sr. Ministro por tudo o que referi anteriormente, e tanto que sempre faltará referir, porque sentimentos como os que sentimos ali dentro são impossíveis de descrever, palavras não chegam para tal, atrevo-me a questioná-lo se alguma escola do seu conhecimento defende tais valores, se alguma escola trata os seus alunos como filhos, se alguma escola trabalha pelos alunos e se preocupa em vê-los felizes. Dou por mim muitas vezes a tentar perceber a justificação das contas, mas todas essas vezes me vem à cabeça a mesma questão: “se o encerramento do Instituto de Odivelas tem a ver com contas e prejuízo ao Estado, gostaria de saber porque não são encerradas todas as outras escolas estatais, sim porque no fim das contas nas outras escolas estatais não há mensalidades fixas que permitam à escola ter todos os meses um bom capital a entrar, enquanto no Instituto de Odivelas há”. Pondo a questão ainda de outra maneira: Imagine o Sr. Ministro, que lhe é dada uma ordem de despejo e fica sem a sua casa, o seu lar, qual seria o seu sentimento? Pois agora multiplique isso por, em números redondos, 500 alunas que irão ver a sua casa fechar. Porque aquilo é mais que um estabelecimento de ensino, é uma casa para as alunas e um quartel para os militares que já se habituaram a ouvir as alunas nos seus recreios, a conviver com elas, a ver a alegria da infância, a ver meninas fazerem-se Mulheres.

Atenciosamente, a aluna do Instituto de Odivelas

Raquel Balacumba, 396/2012