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23 de maio de 2015

Há 115 anos atrás ou uma mera confusão de cor?

Esta semana foi inaugurado, com pompa e circunstância, e perante cerca de três milhares de convidados, o novo Museu Nacional dos Coches.

Nos discursos de ocasião, na cobertura da comunicação social logo se invocou e evocou a História fundadora, o ensejo e o desejo da Rainha D. Amélia de fundar, em 1905, um espaço digno para albergar o espólio de viaturas da Corte Portuguesa que, ao longo dos séculos, percorreram caminhos de terra mais ou menos batida, estradas macadamizadas, pontes, umas ainda romanas, outras de madeira ou de ferro. Viaturas que faziam, em cerimonial solene, as entradas e saídas do Paço, ou que testemunharam o fim trágico do marido e do filho daquela rainha: D. Carlos e o Príncipe herdeiro D. Luís Filipe foram assassinados num landau descapotável no Terreiro do Paço, em 1908.

Não há História com “H” maiúsculo ou História com “H” minúsculo e, por isso, seria bom que os que detêm o Poder pudessem também evocar o desejo do Infante D. Afonso e da Rainha D. Maria Pia, cunhado e sogra de D. Amélia, de fundar, ainda no século XIX, o então Instituto Infante D. Afonso. Mas, o Poder invoca razões economicistas e de género para extinguir a legitimidade histórica de uma instituição nacional.

Em 1900 começou a funcionar o que hoje é reconhecido simplesmente por IO.

Foram gerações e gerações de alunas que percorreram os corredores das aulas, aprenderam nos laboratórios e nas salas específicas de Desenho, História, Geografia, Línguas… brincaram nos claustros, pularam no ginásio, pisaram o palco, nadaram na piscina, cozinharam antes da moda dos “Chefs”, deram banho e papa a bebés e beberam limonadas a seguir à aula de Puericultura, subiram à “torre da Madre Paula”, esconderam-se na “Árvore Avó”, esticaram lençóis nas camaratas e compuseram a colcha de “pombalino”, estudaram na Biblioteca, souberam estar à mesa no Refeitório, ouviram as estórias da D. Ilda, respeitaram azulejos, lajes sepulcrais, o túmulo gótico de um rei, olharam cúmplices para a tela da D. Isabel de Aragão, no “Átrio da Rainha”, contornaram a cabeceira gótica da igreja monacal no Largo D. Dinis, cantaram e tocaram em jardins presidenciais, desfilaram em ocasiões solenes, entraram na “casa da Democracia”. Enfim, transportaram o nome Odivelas e Portugal em variadíssimos eventos educativos, culturais, desportivos e militares, ao longo de décadas.

O IO, essa instituição educativa em processo de extinção, resistiu aos tempos e adaptou-se. Talvez a insensibilidade dos poderes face ao IO resida no desconhecimento da História, na ignorância face à essência e ao espírito de uma escola única que num qualquer país civilizado seria acarinhada e incentivada. Ou residirá, afinal e só, na ganância…

É que numa petição pública foram milhares os cidadãos que defenderam a continuidade do IO como escola de excelência.

Em vão?


Saberão os poderosos que era assim primeiro o uniforme das alunas do IO? Ou julgarão, hoje, que o castanho não diferencia?

Maria Rodrigues

Desenho a cores do primeiro uniforme das alunas do IO (em cima) e uma das primeiras alunas do IO - a aluna nº 7 (em baixo).

Circular nº 16/SE/2015 - 10 Junho 2015

Na passada semana o Instituto de Odivelas enviou a todos os Pais/Encarregados de Educação a circular nº 16/SE/2015


Publicamos aqui (com a devida autorização) a resposta de uma Mãe, membro da actual Direcção da APEEAIO. Esta resposta é subscrita por todos os membros da actual Direcção da APEEAIO.

Exmo. Sr. Diretor do Instituto de Odivelas
 
Coronel Nisa Pato
 
Tendo conhecimento da Circular N.º 16/SE/2015 de 12 de maio sobre a “Participação do Instituto de Odivelas nas cerimónias do dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, em 10 de junho de 2015” em Lamego, e da nomeação da minha filha para participar, venho desta forma enunciar algumas considerações sobre o assunto.
Nas palavras do Sr. Presidente da República Aníbal Cavaco e Silva as Cerimónias Militares das Comemorações do Dia 10 de junho são “… a ocasião propícia para sublinhar o significado de que se reveste a ação das Forças Armadas e disso dar público conhecimento à Nação, contribuindo para um pleno entendimento da sua finalidade, para o seu prestígio e para o reconhecimento dos relevantes contributos que têm proporcionado ao País.”.
 
O Instituto de Odivelas é um estabelecimento militar de ensino dependente do Estado-Maior do Exército e que “tem por missão fomentar educação moral e cívica que vise desenvolver nas alunas o sentido do dever e da honra e os atributos de carácter, em especial a integridade moral, espírito de disciplina e noção de responsabilidade.”.
No cumprimento do Regulamento Interno as alunas têm de representar o Instituto em atos oficiais, sempre que nomeadas, constando essas representações oficiais do processo individual da aluna, competindo aos Encarregados de Educação garantir que as alunas estejam presentes em todas as cerimónias realizadas no Instituto ou em representação, devidamente fardadas e com uma atitude correta que dignifique a Instituição.
 
No que respeita ao Instituto de Odivelas, o Despacho 2606/2014, de 18 de fevereiro determina que este estabelecimento de ensino feminino, encerra no final do ano letivo 2014/2015, garantindo apenas o 9.º ano às alunas que já se encontravam a frequentar este estabelecimento, tanto em regime de internato como em externato, não podendo haver novas admissões, e o 12.º ano às alunas que já se encontravam a frequentar este Instituto, nas condições definidas para o 9.º ano. Determina o Despacho nº 8651/2014, de 3 de julho que o termo do ano letivo seja a 5 de junho de 2015 para os alunos dos 9.º, 11.º e 12.º anos.
 
A conjugação dos despachos acima referidos determina que o Instituto de Odivelas encerra no dia 5 de junho de 2015, cessando assim a continuidade do seu projeto educativo e consequentemente dos seus documentos orientadores pois nesta data extingue-se enquanto instituição de ensino centenária.
 
Neste contexto não se vislumbra qualquer sentido na convocatória emitida pois o, entretanto sem validade, regulamento interno supra mencionado não considera uma representação do instituto extinto.
O ministro da defesa assinou a extinção do Instituto de Odivelas e as chefias militares, representantes das Forças Armadas, não contribuíram “para um pleno entendimento da sua finalidade, para o seu prestígio e para o reconhecimento dos relevantes contributos que têm proporcionado ao País.”. A representação de um instituto centenário extinto que presta honras aos responsáveis pela sua extinção é algo nunca presenciado e que “inova” a democracia.
 
Face ao exposto, informo que a minha filha não estará presente nas comemorações do dia 10 de junho em Lamego.