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10 de abril de 2016

As “órfãs de guerra” da I Guerra Mundial, antigas alunas do Instituto de Educação e Trabalho (IFET) de Odivelas

Portugal participou no primeiro conflito bélico à escala mundial. No total, nos anos de 1914 a 1918, dos cerca de 105.000 mobilizados portugueses, cerca de 7.770 homens morreram, quer na Flandres, quer em África onde contingentes, desde 1914, operavam no sul de Angola, fronteira com a colónia alemã Sudoeste Africano, e norte de Moçambique, fronteira com a colónia alemã, Tanganica. 

Em 1917 foi enviado para a França o célebre Corpo Expedicionário Português - CEP. Há 98 anos atrás, no dia 9 de Abril de 1918, teve lugar a Batalha de La Lys, na fase final da I Guerra Mundial. O confronto militar ocorreu em plena frente ocidental, próximo de Ypres, na Bélgica e no qual foi infligida uma pesada derrota às forças aliadas, no caso portuguesas e inglesas, por parte do exército alemão. Pereceram neste combate no vale da ribeira de La Lys cerca de 400 militares portugueses e cerca de 6.000 foram feitos prisioneiros.

Nos anos 20, o Instituto de Odivelas (IO), estabelecimento militar de ensino fundado a 14 de Janeiro de 1900, extinto em 2015 pelo Governo da coligação PSD/CDS-PP, viu ingressar alunas “órfãs de guerra” cujos pais, oficiais quer da Marinha, quer do Exército, mortos em campanha e em combate em África e na Flandres, deixaram de ser o sustento, por vezes único, da família. 

Por este facto, as mães ou outros familiares ou tutores viram no então Instituto Feminino de Educação e Trabalho de Odivelas (IFET), e indo ao encontro da sua missão inicial, o futuro escolar ideal para as filhas de quem morreu pela Pátria. Tais meninas e raparigas tiveram uma educação e uma instrução integralmente a expensas do Estado Português. 

As alunas recebiam uma formação integral essencial ao ingresso no ensino universitário e à entrada no mundo do trabalho, numa época em que a emancipação feminina e a conquista dos direitos das mulheres eram uma realidade impossível de ignorar nas sociedades ocidentais na Europa e nos EUA.

Nos anos 20, as alunas do IFET participaram no evento Festa Desportiva a favor das Viúvas e Órfãos da Grande Guerra, no Stadium do Lumiar em Lisboa.



 

A discriminação de que foi alvo o Instituto de Odivelas

O Instituto de Odivelas, uma instituição educativa centenária de referência e de excelência foi extinta por decisão política.

O Instituto de Odivelas foi obrigado a sair de dois edifícios: o Mosteiro de Odivelas e o Forte de Santo António da Barra em S. João do Estoril.

O Instituto de Odivelas foi encerrado sob o pretexto economicista dos custos, quando era a escola mais económica e que dava retorno ao Estado.

O Instituto de Odivelas não foi fundido com outros estabelecimentos militares de ensino.

O Instituto de Odivelas foi o elo mais fraco - porque feminino - a ser sacrificado.

O Instituto de Odivelas foi alvo de uma discriminação de género num Estado que permite e financia o ensino diferenciado por género privado.

O Instituto de Odivelas foi vítima de todos aqueles que contribuíram, directa e indirectamente, em fechá-lo rapidamente e em força. E não foram poucos, nos palcos e nos bastidores...

O Instituto de Odivelas foi alvo da ganância e da ignorância: ipso facto, paralelamente e vice-versa.

E nada mais aconteceu.

Maria Rodrigues