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9 de maio de 2015

O Instituto de Odivelas – o fim triste de uma história

Noticia publicada no jornal Expresso de 9 de Maio de 2015.

Era uma vez o Instituto de Odivelas, (IO), que nasceu em 1900 e foi crescendo ao longo dos anos, educando e formando filhas de militares, de polícias, de civis, raparigas de todas as condições socioeconómicas, “órfãs de guerra”, da I Guerra Mundial ou da Guerra Colonial. Desde 1915, o Forte de Santo António do Estoril tornou-se a colónia de férias do IO, (e que ficará célebre pois foi lá que se deu o princípio do fim da ditadura). Em 1919 foi fundada a associação feminina mais antiga e atualmente existente em Portugal – a Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas, obreira de causas sociais assinaláveis. Em democracia, a partir de 1977, estabeleceu-se um intercâmbio com a prestigiada escola feminina, a Maison D’Éducation de la Légion D’Honneur, também ela a funcionar, desde o século XIX, num mosteiro dedicado a S. Dinis, tal como o IO, e que é motivo de orgulho para a França. Ao longo de mais de um século, o IO formou mulheres modistas e jornalistas, contabilistas e professoras, bailarinas e médicas, escritoras e desportistas, atrizes e cientistas, engenheiras e secretárias.

Eis-nos chegados à vontade dos homens de querer fazer desaparecer, já no final do ano letivo de 2014/2015, uma escola que transporta uma marca há 115 anos - as “Meninas de Odivelas”, e que ainda funciona. Uma escola que tem um estandarte, um hino, uma divisa, um lema, um brasão de armas, um código de honra, um uniforme, um símbolo. Uma escola tornada membro honorário da Ordem de Santiago e Espada, em 1982, e da Ordem de Avis, em 1999.

Porquê extinguir o IO, ou melhor, para quê encerrar o IO que tem equipamentos escolares e desportivos em perfeito estado de utilização e de conservação, camaratas e casas de banho renovadas, uma escola que preserva para todos portugueses um mosteiro do século XIII, última morada do rei D. Dinis?

Há estudos que contradizem os argumentos oficiais: o Instituto de Odivelas é “económico”, e até sustentável, por comparação com outras escolas públicas com oferta educativa específica. Quanto à questão de “género”, Portugal não é o único nem último país do mundo civilizado a ter ensino diferenciado por género e público. Até o Papa Francisco deu a bênção apostólica ao Instituto de Odivelas.

A quem interessa o triste fim desta História?

Maria Rodrigues