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22 de fevereiro de 2014

Uma escola fantasma

Artigo de opinião no jornal Expresso e 22 de Fevereiro de 2014.

Uma escola com 114 anos de história, que ocupa os lugares cimeiros nos rankings das escolas nacionais, com um Projeto Educativo único em Portugal, tem de encerrar em 2015? Uma escola visitada pelos últimos reis de Portugal, por presidentes da república, por ministros, por deputadas e deputados da Assembleia da República Portuguesa, por embaixadores e embaixatrizes, por adidos militares estrangeiros, enfim, por diversas personalidades da vida nacional e internacional tem de encerrar? Uma escola que transporta uma marca desde 1900: as “meninas de Odivelas” e com ADN, como agora se diz, tem de encerrar?
O Instituto de Odivelas (IO), de acordo com a decisão governativa, terá apenas dois níveis de ensino no próximo ano letivo de 2014/2015, com o impedimento de receber novas admissões: o 9.º ano e o 12.º ano de escolaridade. As alunas dos restantes níveis de ensino transitarão para o Colégio Militar (CM), sendo que as internas pernoitarão no Instituto de Odivelas. O Instituto de Odivelas está fechando “às pinguinhas” pois já este ano letivo perderam-se todas as candidaturas para o 5.º ano e para o 7.º ano e 10.º ano - nestes últimos casos apenas foram admitidas alunas internas. Paradoxalmente, o IO viu aumentar o número de alunas, precisamente para este ano letivo, mas já para o ano letivo seguinte passará a ter um número residual de alunas. Muitas delas sairão do IO mas para a escola pública ou para o ensino privado. Muitos pais e encarregados de educação que confiaram no Projeto Educativo do IO não irão transferir as suas filhas para o CM. Tenho uma filha no 5.º ano no ensino privado e outra filha que encara com dificuldade o ficar numa escola fantasma, no 9.º ano.
Para iniciarem as aulas, as alunas terão de acordar muito mais cedo para poderem estar no CM depois de duche, tarefas, pequeno-almoço tomado e percurso feito, prontas para a primeira aula da manhã, às 8H00. Ao final do dia, descerão a Calçada de Carriche… Enfim, transporte, condutores habilitados, gasóleo, poluição… Um colégio interno não funciona assim. Um novo edifício de internato que implica custos, e em tempo de vacas magras, a funcionar no mesmo campus de um internato masculino é, no mínimo “contra natura”. Só mesmo na ficção e em Hogwarts, onde existem fantasmas verdadeiros.
Os espetros dos custos e do género não são, contudo, aterradores. Há estudos que contradizem os números oficiais: o IO é sustentável e até mais “económico”, por comparação com outras escolas públicas com oferta educativa específica. Portugal não é o único e último país do mundo civilizado a ter ensino diferenciado por género e público. Veja-se o exemplo dos EUA, da Inglaterra, da Alemanha, onde todos os tipos de ensino coexistem pacifica e democraticamente, dando a liberdade de escolha às famílias e o justo direito de opção. Com a extinção das ordens religiosas em 1834 ocorreu uma discriminação de género pela positiva: as ordens monásticas femininas mantiveram-se nos mosteiros até à última freira. Hoje, numa discriminação de género evidente, são as alunas de Odivelas que têm de se diluir no CM. Desaparece um estabelecimento militar de ensino centenário e descaracteriza-se um estabelecimento militar de ensino bicentenário. Com franqueza, estamos perante um problema de preservação do património educativo de Portugal. Até o Papa Francisco deu a bênção apostólica ao Instituto de Odivelas!

Desfaz-se uma escola centenária para fazer História? Porquê? Certamente que os antigos alunos do CM não me irão cobrar direitos de autor.


Maria Rodrigues

Página da wikipedia do IO censurada

A História secular do Instituto de Odivelas nunca será apagada, nem por lápis azul nem por borracha branca.
Na sequência da recente censura de muita da informação contida na página da wikipedia do IO, e até que o seu conteúdo seja reposto, foi criada a página das "Meninas de Odivelas" contendo todos os factos que foram apagados.

A voz do IO não se calará e falará mais alto, cada vez mais alto!



Centenário IPE - Comentário do Presidente do CDS, Paulo Portas