Translate

15 de novembro de 2016

A apropriação do Forte de Santo António do Estoril, Casa de Verão do Instituto de Odivelas

O Instituto de Odivelas dispunha desde 1925 e até ao seu encerramento em 2015 do uso do Forte de Santo António no Estoril como colónia de férias, tal como o Colégio Militar dispõe (ainda) da Feitoria em Oeiras.

 
A Câmara de Cascais andou atrás deste imóvel. O assédio do Sr. Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais, chegou a ser incomodativo. O Instituto de Odivelas aguardava por obras no Forte da responsabilidade da Câmara Municipal de Cascais a troco da cedência de metade da área. Mas a Câmara de Cascais não fez nada, invocando restrições financeiras de contexto.
O Forte de Santo António foi visitado em 2012 por Paulo José Cutileiro Cerqueira Correia, licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto, membro da equipa da empresa de advogados José Pedro Aguiar-Branco e Associados, R.L., nomeado em 2011 como adjunto do Gabinete do então Ministro da Defesa com o mesmo nome. Esteve lá com a vereadora da cultura, desejou conhecer o espaço, o célebre local onde o Dr. Salazar passou férias e onde caiu – então ainda conservado como se encontrava na época – e tirou até fotografias com o telemóvel.
Gabinete do Doutor Salazar no Forte de Santo António.
 
Posteriormente quem foi visitar o Forte foi João Carlos Espada, professor na Universidade Católica e consultor para Assuntos Políticos do Presidente da República Portuguesa Aníbal Cavaco Silva desde 2006. Foi nessa ocasião acompanhado pelo Almirante Vieira Matias, professor convidado do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, fundado e dirigido pelo referido João Carlos Espada, e autor de diversos trabalhos sobre estratégia marítima, segurança nacional e economia do mar. Ao que constou na altura, pediram uma visita histórica, mas como testemunhado pela professora Cesaltina (entretanto falecida) que acompanhou a visita, andaram a ver que paredes é que podiam deitar abaixo e no final da visita pediram as plantas do forte.

Entretanto, a Direcção Geral do Tesouro e Finanças preparou um Auto de Cedência de Utilização e de Aceitação, em que o Estado Português, representada por um tal Engº Bernardo Xavier Alabaça e sub-director da referida direcção-geral, que já vinha, como convém, transitado de um posto no Ministério da Defesa então dirigido por Aguiar Branco. Aí o forte é cedido por 50 anos ao Município de Cascais para sede do “Estoril Institute for Global Dialogue”, para instalação de um centro de I&D ligado à Economia de Mar e mais a AESE (escola da Opus Dei) e uma obscura Ocean Vision Maritime Affairs. Contrapartida? Um milhão de euros em espécie para recuperação do imóvel.
 


 
Depois foi o que se sabe, a culminar com o incêndio já em 2016.
 
Tantas ligações, tanta gente envolvida nos negócios para apropriação da coisa pública. Cavaco Silva fingiu que nada sabia e não respondeu a nenhum dos muitos apelos que lhe foram dirigidos para poupar o Instituto de Odivelas. Maria Cavaco Silva, menina de Odivelas honorária, ensurdeceu e emudeceu. Mas não foram os únicos.
O anterior governo teve um papel determinante na destruição de todo este património. Pedro Passos Coelho surge como potencial interessado na sua qualidade de docente de Economia do Turismo no ISCE – Instituto Superior de Ciências da Educação, que funciona na Ramada em Odivelas e tem fortes ligações à Câmara Municipal de Odivelas, com vários membros desta edilidade como professores e/ou accionistas naquele estabelecimento de ensino cooperativo. O presente governo diz-se preocupado, mas não passa disso.
Marcelo Rebelo de Sousa, actual Presidente da República e filho de uma antiga aluna do Instituto de Odivelas, Maria das Neves Rebelo de Sousa, também ficou mudo e parece ter perdido todos os afectos que o ligavam ao Instituto de Odivelas através da sua mãe.
E o saque continua, no Forte e no Instituto de Odivelas, perante o olhar passivo e a falta de vontade de todos o que poderiam fazer alguma coisa para evitar tão grande perda. A rede de interesses instalada é grande demais e interfere com praticamente todos os quadrantes políticos. Sinais de um país deveras inculto e interesseiro.
Para mim pessoalmente, dirão, é apenas uma perda irreparável.
Maria João Marcelo Curto
Aluna nº 254/1960 do Instituto de Odivelas

14 de novembro de 2016

Um património educativo e histórico destruído - o Instituto de Odivelas

Ex.mo Senhor Presidente da Assembleia da República,
Dr. Eduardo Ferro Rodrigues
 
Do desrespeito pela História e pela Educação  o exemplo do Instituto de Odivelas
Decorreu um ano desde a extinção do Instituto de Odivelas – Infante D. Afonso (IO). Esta decisão, do Governo do Dr. Pedro Passos Coelho, marcou e magoou muitos portugueses. Porém a ação e influência destes não foram suficientes para travar o processo tortuoso e nebuloso que levou à decisão final. As meninas, raparigas, mulheres educadas no IO, todo o pessoal civil e militar que serviu o/no IO desde 1900 são uma memória histórica que um despacho extinguiu sem sensibilidade, racionalidade ou conhecimento de causa, enfim, sem respeito, no princípio e no fim, pela História. Como se esta tivesse dois pesos e duas medidas no discurso e na prática de quem tem responsabilidades públicas ao mais alto nível. Uma instituição educativa de excelência e de referência não foi alvo de "reestruturação", ou "integração", ou "fusão". Foi extinta. Sacrificou-se uma escola só pelo facto de ser feminina. Nada dela resta a não ser as memórias que nenhuma lei poderá apagar. "Nada do que é humano é estável absolutamente". Julgo terem sido, mais ou menos, estas as palavras que um político proferiu ao dirigir-se ao rei D. Carlos. O IO nasceu na monarquia e morreu na democracia. Foi ignorado ou apenas apoiado e aproveitado para arremessos políticos ditados pela circunstância. Assola-me uma tristeza pelo fim do IO, que funcionava bem, que tinha resultados de excelência, que dava retorno financeiro ao Estado. Hoje há salas e corredores vazios e um Forte vandalizado. Orgulho-me de ter servido no IO e de ter uma filha antiga aluna do IO. Envergonho-me quando amigos estrangeiros dizem não poder acreditar no fecho do IO. Nada disto teria acontecido na livre Inglaterra. O fecho de uma instituição educativa com 115 anos de História. Nada poderá consertar o erro que foi a extinção do IO. Fechou-se um capítulo da Educação em Portugal. Porquê? Para quê? Só o tempo "esse grande escultor", como tão bem escreveu uma mão feminina, o dirá.
 
Margarida Cunha