Ex.mo Senhor Presidente da Assembleia da República,
Dr. Eduardo Ferro Rodrigues
Do desrespeito pela História e pela Educação – o exemplo do Instituto de Odivelas
Decorreu um ano desde a extinção do Instituto de Odivelas – Infante D. Afonso (IO). Esta decisão, do Governo do Dr. Pedro Passos Coelho, marcou e magoou muitos portugueses. Porém a ação e influência destes não foram suficientes para travar o processo tortuoso e nebuloso que levou à decisão final. As meninas, raparigas, mulheres educadas no IO, todo o pessoal civil e militar que serviu o/no IO desde 1900 são uma memória histórica que um despacho extinguiu sem sensibilidade, racionalidade ou conhecimento de causa, enfim, sem respeito, no princípio e no fim, pela História. Como se esta tivesse dois pesos e duas medidas no discurso e na prática de quem tem responsabilidades públicas ao mais alto nível. Uma instituição educativa de excelência e de referência não foi alvo de "reestruturação", ou "integração", ou "fusão". Foi extinta. Sacrificou-se uma escola só pelo facto de ser feminina. Nada dela resta a não ser as memórias que nenhuma lei poderá apagar. "Nada do que é humano é estável absolutamente". Julgo terem sido, mais ou menos, estas as palavras que um político proferiu ao dirigir-se ao rei D. Carlos. O IO nasceu na monarquia e morreu na democracia. Foi ignorado ou apenas apoiado e aproveitado para arremessos políticos ditados pela circunstância. Assola-me uma tristeza pelo fim do IO, que funcionava bem, que tinha resultados de excelência, que dava retorno financeiro ao Estado. Hoje há salas e corredores vazios e um Forte vandalizado. Orgulho-me de ter servido no IO e de ter uma filha antiga aluna do IO. Envergonho-me quando amigos estrangeiros dizem não poder acreditar no fecho do IO. Nada disto teria acontecido na livre Inglaterra. O fecho de uma instituição educativa com 115 anos de História. Nada poderá consertar o erro que foi a extinção do IO. Fechou-se um capítulo da Educação em Portugal. Porquê? Para quê? Só o tempo "esse grande escultor", como tão bem escreveu uma mão feminina, o dirá.
Margarida Cunha
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