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6 de setembro de 2013

Carta aberta de uma ex-aluna

Em 1983 perdi o meu pai, tinha eu 12 anos. O meu pai era militar da Força Aérea.
A morte do meu pai veio originar uma alteração de 180º graus na nossa vida.
Foi nessa altura que alguns colegas do meu pai falaram à minha mãe na hipótese de eu e a minha irmã integrarmos o Instituto de Odivelas (IO).
Após a realização de provas de conhecimentos para aferir o nível de ensino em que estávamos - entrei recuando no nível de ensino. De facto, o ritmo, a disciplina, a organização e a exigência académica não tinham qualquer comparação com o que eu havia vivido até áquele momento.
No ano lectivo 1984/1985, eu e a minha irmã, entramos no IO.

Devo dizer que estou extremamente grata aos colegas do meu pai, ao darem esta sugestão apoiaram enormemente o meu núcleo familiar, a nossa educação e instrução.
Tive a oportunidade de adquirir conhecimentos académicos e valores, como o sentido do dever, da honra e da solidariedade e atributos de carácter, como sejam a integridade moral, o espírito de disciplina e a noção de responsabilidade individual, colectiva e social. Por isso, creio que a missão do IO foi, no meu caso e na generalidade das meninas/mulheres que por lá passaram, alcançada. Creio que quase 100% das meninas que passaram pelo IO ingressaram no ensino superior e algumas nos estabelecimentos militares de ensino superior.

Voltando a 1984. Creio que, se não tivesse existido o IO, hoje seria outra pessoa. Não sei se melhor ou pior, mas sei que não seria o que hoje sou e, como estou bastante satisfeita com o que sou, estou grata ao IO. Creio, igualmente, que este sentimento é partilhado por todas as meninas que ao longo dos anos foram passando por este estabelecimento de ensino.
O que somos, enquanto mulheres e cidadãs activas, tem impacto na sociedade em que estamos inseridas. Decerto passaremos aos nossos filhos o espírito do dever individual, colectivo e social, a resiliência e toda uma atitude positiva de luta por aquilo em que acreditamos, dando o melhor de nós naquilo em que nos envolvemos!

Apelo por isso à grande familia militar, militares no ativo e na reserva, elementos da GNR, da PSP, ex-alunos do Colégio Militar, ex-alunos do Instituto Pupilos do Exército, ex-alunos da Academia Militar, ex-alunos da Escola Naval, ex-alunos da Academia da Força Aérea e associações profissionais de militares que se juntem nesta causa, pelos vossos filhos. Todos podem um dia deixar orfãos.
Encerrar o IO é uma má decisão porque se fundamenta exclusivamente num racional económico, onde o produto final não é mensurado porque é imensurável.
Pergunto quanto vale efectivamente a minha formação moral e académica? E se multiplicar esse valor pelo número de alunas que passaram pelo IO? Não tem valor.
O que irá acontecer ao Mosteiro? Irá ficar ao abandono, será pilhado, degradar-se-á até ir a hasta pública e ser adquirida por algum investidor estrangeiro? Conservar o património histórico, dando-lhe simultaneamente utilidade, não será uma boa prática da gestão do património do Estado? 
O regime de externato e misto irá conseguir os mesmos resultados? Não creio.
Vamos fazer experências e anular mais de cem anos de sucessos educativos públicos?

Os períodos de crise são momentos de grandes oportunidades, sem dúvida. Na questão da educação e formação de crianças e adolescentes, estes tempos impõem lucidez, bom senso e objetividade. Por isso, é essencial não desfocar a atenção dos resultados alcançados. Os resultados finais do IO são excelentes, assim como os do Colégio Militar e Instituto dos Pupilos do Exército.
Temos que sair do “conforto” e “desconforto” da nossa vida e mostrar ao Governo que esta não é uma boa decisão e que recuar é próprio de quem ouve e quer o melhor para a sociedade.

Dia 14 de junho de 2013, às 19.30, venha marchar com as alunas do IO. A partida será do Mosteiro dos Jerónimos e terminará no Ministério da Defesa Nacional."

Diva Cristina Sousa


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