Em 1983 perdi o meu pai, tinha eu 12 anos. O meu pai era militar da Força
Aérea.
A morte do meu pai veio originar uma alteração de 180º graus na nossa vida.
Foi nessa altura que alguns colegas do meu pai falaram à minha mãe na
hipótese de eu e a minha irmã integrarmos o Instituto de Odivelas (IO).
Após a realização de provas de conhecimentos para aferir o nível de ensino
em que estávamos - entrei recuando no nível de ensino. De facto, o ritmo, a
disciplina, a organização e a exigência académica não tinham qualquer
comparação com o que eu havia vivido até áquele momento.
No ano lectivo 1984/1985, eu e a minha irmã, entramos no IO.
Devo dizer que estou extremamente grata aos colegas do meu pai, ao darem
esta sugestão apoiaram enormemente o meu núcleo familiar, a nossa educação e
instrução.
Tive a oportunidade de adquirir conhecimentos académicos e valores, como o
sentido do dever, da honra e da solidariedade e atributos de carácter, como
sejam a integridade moral, o espírito de disciplina e a noção de
responsabilidade individual, colectiva e social. Por isso, creio que a missão
do IO foi, no meu caso e na generalidade das meninas/mulheres que por lá
passaram, alcançada. Creio que quase 100% das meninas que passaram pelo IO
ingressaram no ensino superior e algumas nos estabelecimentos militares de
ensino superior.
Voltando a 1984. Creio que, se não tivesse existido o IO, hoje seria outra
pessoa. Não sei se melhor ou pior, mas sei que não seria o que hoje sou e, como
estou bastante satisfeita com o que sou, estou grata ao IO. Creio, igualmente,
que este sentimento é partilhado por todas as meninas que ao longo dos anos
foram passando por este estabelecimento de ensino.
O que somos, enquanto mulheres e cidadãs activas, tem impacto na sociedade
em que estamos inseridas. Decerto passaremos aos nossos filhos o espírito do
dever individual, colectivo e social, a resiliência e toda uma atitude positiva
de luta por aquilo em que acreditamos, dando o melhor de nós naquilo em que nos
envolvemos!
Apelo por isso à grande familia militar, militares no ativo e na reserva,
elementos da GNR, da PSP, ex-alunos do Colégio Militar, ex-alunos do Instituto
Pupilos do Exército, ex-alunos da Academia Militar, ex-alunos da Escola Naval,
ex-alunos da Academia da Força Aérea e associações profissionais de militares
que se juntem nesta causa, pelos vossos filhos. Todos podem um dia deixar
orfãos.
Encerrar o IO é uma má decisão porque se fundamenta exclusivamente num
racional económico, onde o produto final não é mensurado porque é imensurável.
Pergunto quanto vale efectivamente a minha formação moral e académica? E se
multiplicar esse valor pelo número de alunas que passaram pelo IO? Não tem
valor.
O que irá acontecer ao Mosteiro? Irá ficar ao abandono, será pilhado,
degradar-se-á até ir a hasta pública e ser adquirida por algum investidor
estrangeiro? Conservar o património histórico, dando-lhe simultaneamente
utilidade, não será uma boa prática da gestão do património do Estado?
O regime de externato e misto irá conseguir os mesmos resultados? Não
creio.
Vamos fazer experências e anular mais de cem anos de sucessos educativos
públicos?
Os períodos de crise são momentos de grandes oportunidades, sem dúvida. Na
questão da educação e formação de crianças e adolescentes, estes tempos impõem
lucidez, bom senso e objetividade. Por isso, é essencial não desfocar a atenção
dos resultados alcançados. Os resultados finais do IO são excelentes, assim
como os do Colégio Militar e Instituto dos Pupilos do Exército.
Temos que sair do “conforto” e “desconforto” da nossa vida e mostrar ao
Governo que esta não é uma boa decisão e que recuar é próprio de quem ouve e
quer o melhor para a sociedade.
Dia 14 de junho de 2013, às 19.30, venha marchar com as alunas do IO. A
partida será do Mosteiro dos Jerónimos e terminará no Ministério da Defesa
Nacional."
Diva Cristina Sousa
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