O Instituto de Odivelas dispunha desde 1925
e até ao seu encerramento em 2015 do uso do Forte de Santo António no Estoril
como colónia de férias, tal como o Colégio Militar dispõe (ainda) da Feitoria
em Oeiras.
A Câmara de Cascais andou atrás deste imóvel. O assédio do Sr. Carlos
Carreiras, presidente da Câmara de Cascais, chegou a ser incomodativo. O Instituto
de Odivelas aguardava por obras no Forte da responsabilidade da Câmara
Municipal de Cascais a troco da cedência de metade da área. Mas a Câmara de
Cascais não fez nada, invocando restrições financeiras de contexto.
O Forte de Santo António foi visitado em
2012 por Paulo José Cutileiro Cerqueira Correia, licenciado em Direito pela
Universidade Católica do Porto, membro da equipa da empresa de advogados José
Pedro Aguiar-Branco e Associados, R.L., nomeado em 2011 como adjunto do
Gabinete do então Ministro da Defesa com o mesmo nome. Esteve lá com a vereadora da cultura, desejou conhecer o espaço, o célebre
local onde o Dr. Salazar passou férias e onde caiu – então ainda conservado
como se encontrava na época – e tirou até fotografias com o telemóvel.
Gabinete do Doutor Salazar no Forte de Santo António.
Posteriormente quem
foi visitar o Forte foi João Carlos
Espada, professor na Universidade Católica e consultor para Assuntos
Políticos do Presidente da República Portuguesa Aníbal Cavaco Silva desde 2006.
Foi nessa ocasião acompanhado pelo Almirante Vieira Matias, professor convidado
do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, fundado
e dirigido pelo referido João Carlos Espada, e autor de diversos trabalhos
sobre estratégia marítima, segurança nacional e economia do mar. Ao que constou
na altura, pediram uma visita histórica, mas como testemunhado pela professora
Cesaltina (entretanto falecida) que acompanhou a visita, andaram a ver que
paredes é que podiam deitar abaixo e no final da visita pediram as plantas do
forte.
Entretanto, a Direcção
Geral do Tesouro e Finanças preparou um Auto de Cedência de Utilização e de
Aceitação, em que o Estado Português, representada por um tal Engº Bernardo
Xavier Alabaça e sub-director da referida direcção-geral, que já vinha, como convém,
transitado de um posto no Ministério da Defesa então dirigido por Aguiar
Branco. Aí o forte é cedido por 50 anos ao Município de
Cascais para sede do “Estoril Institute for Global Dialogue”, para instalação
de um centro de I&D ligado à Economia de Mar e mais a AESE (escola da Opus
Dei) e uma obscura Ocean Vision Maritime Affairs. Contrapartida? Um milhão de
euros em espécie para recuperação do imóvel.
Depois foi o que se sabe, a culminar com o incêndio já em
2016.
Tantas ligações, tanta gente
envolvida nos negócios para apropriação da coisa pública. Cavaco Silva fingiu
que nada sabia e não respondeu a nenhum dos muitos apelos que lhe foram
dirigidos para poupar o Instituto de Odivelas. Maria Cavaco Silva, menina de
Odivelas honorária, ensurdeceu e emudeceu. Mas não foram os únicos.
O anterior governo teve um papel
determinante na destruição de todo este património. Pedro Passos Coelho surge
como potencial interessado na sua qualidade de docente de Economia do Turismo
no ISCE – Instituto Superior de Ciências da Educação, que funciona na Ramada em
Odivelas e tem fortes ligações à Câmara Municipal de Odivelas, com vários
membros desta edilidade como professores e/ou accionistas naquele
estabelecimento de ensino cooperativo. O presente governo diz-se preocupado,
mas não passa disso.
Marcelo Rebelo de Sousa, actual
Presidente da República e filho de uma antiga aluna do Instituto de Odivelas,
Maria das Neves Rebelo de Sousa, também ficou mudo e parece ter perdido todos
os afectos que o ligavam ao Instituto de Odivelas através da sua mãe.
E o saque continua, no Forte e no
Instituto de Odivelas, perante o olhar passivo e a falta de vontade de todos o
que poderiam fazer alguma coisa para evitar tão grande perda. A rede de
interesses instalada é grande demais e interfere com praticamente todos os
quadrantes políticos. Sinais de um país deveras inculto e interesseiro.
Para mim pessoalmente, dirão, é
apenas uma perda irreparável.
Maria João Marcelo Curto
Aluna nº 254/1960 do Instituto de
Odivelas